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terça-feira, 21 de setembro de 2010

LITERATURA DO VALE – MEU RIO GRANDE DO NORTE

MEU RIO GRANDE DO NORTE – RENATO CALDAS (1980)
ASSU – RIO GRANDE DO NORTE

Açu, ó terra querida,
Que deu vida à minha vida,
Paz, amor, inspiração;
Por ti, cidade dileta,
Fui um boêmio-poeta...
Que rendosa profissão;
E aos demais municípios
Que seguem os mesmos princípios
Da grande Revolução;
Eu quero nesta viagem
Deixar a grande homenagem
Da minha admiração;

LITERATURA DO VALE - A UM JASMINEIRO

A UM JASMINEIRO - DEOLINDO LIMA (1885)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN

Nos teus felizes tempos, eu te via
Todo cheio de folhas e de flores,
Num anceio de amor, então, sorvia
Tuas exhalações, os teus odores.


Quando a lua do céo, alto, espargia,
Seus thezouros de luz, os seus pallores,
O teu perfil, ao meu fulgia,
Lindo como o perfil dos meus amores...


Passo agora e te vejo desnudado,
Sem frondes, sem ramagens, desolado,
Pedindo orvalho para efflorescer...


Revive, jasmineiro de minha alma!
Traze nos teus perfumes branda calma
Ao coração exhausto de soffrer.

A partir da análise do poema em questão, podemos notar que há englobado no contexto uma nostalgia referente ao que o eu-lírico foi, e já deixou de ser. A vontade de reviver momentos antigos faz-se presente na composição, e como em poemas românticos, há sempre o citar de um amor perdido, que causa sofrimento e têm-se a necessidade de haver a reestruturação do ser em foco.

LITERATURA DO VALE – MEU RIO GRANDE DO NORTE

MEU RIO GRANDE DO NORTE – RENATO CALDAS (1980)
ASSU – RIO GRANDE DO NORTE

Alto do Rodrigues: Pendências:
São terras de preferências
Para criar e plantar:
Além de tudo, têm mais,
Dos verdes carnaubais,
Produtos para exportar.

LITERATURA DO VALE – MEU RIO GRANDE DO NORTE

MEU RIO GRANDE DO NORTE – RENATO CALDAS (1980)
ASSU – RIO GRANDE DO NORTE

Carnaubais, na verdade
Enfrenta a dificuldade
Da seca e da alagação:
Com a mesma indiferença,
Porque o seu povo só pensa
Em lutar pela Nação:

LITERATURA DO VALE - NA BALANÇA DA VERDADE SE SABE QUEM PESA MAIS

MANUEL CALIXTO DANTAS - NA BALANÇA DA VERDADE SE SABE QUEM PESA MAIS (1997)
CIDADE DE ORIGEM - SÃO RAFAEL/RN


"Se eu for à eternidade
peço a São Miguel de perto
eu quero meu peso certo
na balança da verdade
se por infelicidade
eu for julgado incapaz
vos direi vem outro atrás 
prá ser pesado depois
no julgamento dos dois
se sabe quem pesa mais."

Esses versos, remetem à cassação de alguns dos políticos mais importantes do país, impostas por Castelo Branco (durante o golpe militar), no início, Manuel Calixto exitou, por se tratar da ditadura militar, mas depois, os amigos o convenceram a criar e ficar apenas entre sí.

LITERATURA DO VALE – MEU RIO GRANDE DO NORTE

MEU RIO GRANDE DO NORTE I – RENATO CALDAS (1980)
ASSU – RIO GRANDE DO NORTE

Ipanguaçu, que desfraldas
No trono velho dos caldas
A bandeira do civismo,
Luiz Gonzaga morreu,
Porém lutou e venceu
A sanha do comunismo:

LITERATURA DO VALE – FULÔ DO MATO






FULÔ DO MATO – RENATO CALDAS (1980)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN


"Sá Dona, vossa mecê


É a fulô mais chêrosa,
A fulo mais perfumosa
qui o meu sertão já botô!
Podem fazê um cardume
de tudo qui fô fulô,
qui nenhum, nem uma só
tem o cheiro do suo
qui seu corpinho suô.
- Tem cheiro de madrugada,
Fartum de areia muiáda,
Qui o uruváio inxombriô.
É um cheiro bom, déferente,
Qui a gente sintindo, sente,
Das outa coisa o fedô."







No poema de Renato Caldas, natural da cidade de Assu, percebe-se a variação diatópica, uma linguagem mais regionalista em que predomina o apelo fonético. O eu lírico descreve em seu poema uma doce e linda mulher pela qual ele é apaixonado e gosta de seu cheiro de qualquer maneira.

LITERATURA DO VALE – DESTERRO

DESTERRO – MOYSÉS SOARES (1885)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN

Estendo a vista pelo prado... e nada
Vejo, que mate a dôr que me entristece...
Ali – saltita alegre a passarada,
Além – o sol, garboso, resplandece.

Ninguem visita a lúgubre morada
De quem vive a soffrer, de quem padece...
Assim, vive a minh’alma abandonada,
Entre á dôr, que, cada vez, mais cresce!...

E tu, mundo cruel, que me condemnas,
Tens para mim a fúria das hyenas
E o desprezo, sem fim, com que me feres...

E eu amo-a, e hei de amar eternamente...
- Dôr, rasga as fibras do meu peito ardente,
- Mundo, faze de mim o que quizeres! 

sábado, 18 de setembro de 2010

LITERATURA DO VALE - DEUS

DEUS – CELSO FILHO (1886)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN

Deus, dizem todos, é Omnipotente
Póde, querendo, o mundo exterminar,
E póde, se quizer, incontinente,
Outra vez, o Universo architectar!

Eu, sou homem, o ser intelligente
Cá da terra, que póde o braço armar
Para – maior que o tigre e que a serpente,
O homem – seu rival – anniquilar!

Porém Deus é maior: é soberano!
Não conhece outro Deus, outro tyrano,
Mora em cima de tudo, lá nos céos!...

Máta os filhos, sem dó nem piedade!
No entanto, todos clamam-lhe a bondade...
Ah! si eu fosse tambem como esse Deus!...

Um poema que utiliza técnicas barrocas em sua formação, utilizando a ideologia cristã sobre um Deus acima de todos os seres para criticar fortemente essa idéia hierárquica. O eu-lírico, começa com uma ironia, utilizando-se da expressão “dizem todos” para confirmar suas dúvidas sobre essa possível soberania em torno do Criador.  Além disso, há ainda as comparações entre o homem com os demais seres, estes tidos como inferiores; enquanto o primeiro citado encontra-se abaixo do Deus adotado pelo cristianismo. Por fim, a critica mais forte presente no poema é na última estrofe, quando Deus é comparado com um assassino, realizando matanças dentre os homens. Quando ele utiliza desse argumento, infere que essas ideologias do senso comum em torno de um ser onipotente contrariam a ciência com as leis naturais da existência.

LITERATURA DO VALE - NINGUÉM CONHECE NINGUÉM

NINGUÉM CONHECE NINGUÉM – RENATO CALDAS (1980)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN
DEDICATÓRIA: SEBASTIÃO ALVES MARTINS

Senhor: eu não credito
Que ninguém escute o grito
De angústia que a fome tem.
Não quero saber quem foi:
Que inventou o perdoe...
Se negando fazer o bem.

A espécie humana rasteja,
Sem saber o que deseja
Nem mesmo pra onde vai...
É marcha hostil da matéria
Na senda vil da miséria,
Caminha tropeça e cai.

Não sei no mundo o que fui
Fui talvez Edgar Poe...
Um Agostinho... Um Plutão...
Nos festins da inteligência,
Mergulhei a consciência
E o vício estendeu-me a mão.

Na estrada dos infelizes,
Na confusão dos matizes,
Nascem as flores também!
Sim, nos cérebros dos pobres
Há pensamentos tão nobres...
Ninguém conhece ninguém.

Fui nômade! Aventureiro,
Fui poeta seresteiro,
Um lovelace também!
Amei demais as mulheres
E procurei nos prazeres,
Manchar a face do bem.

Hoje, sinto a claridade,
Tenho, pois, necessidade
De meu passado esquecer.
Pouco importa os infelizes
A mancha das cicatrizes...
Se deixarem de doer.

Já viu lavar a desgraça?
Ou afogar na cachaça
A vergonha... a precisção?
É a forma conveniente
De tornar-se indiferente...
Podendo estender a mão.

Uma esmola por caridade:
É a voz da humanidade,
Morrendo de inanição
Não diga nunca perdoe,
Não queira saber: quem foi!
Esse alguém... é vosso irmão.

No poema, o eu-lírico relata suas visões acerca da fome difundida pelas camadas sociais menos elevadas e privilegiadas. A princípio, uma atitude comumente encontrada por aqueles que decidem recorrer à ajuda alheia é comentada pelo autor e, tendo suas respostas fortemente criticadas. Ele demarca, ainda, uma característica social que se reflete desde seu tempo, até os dias atuais, isto é, ele relata a avidez pela matéria do homem, procurando usufruir e ampliar ainda mais riquezas, causando miséria para os outros. Uma parte interessante do poema, que possui uma intertextualidade fértil, está na descrição do que possivelmente o eu-lírico poderia ser, citando nomes que marcaram o espaço ao qual o poema fora escrito. Talvez para trazer mais o eu-lírico para uma proximidade com os leitores, o autor utiliza de recursos de vida aos quais a maioria de nós anexa ao cotidiano: a procura nos prazeres. O pobre, ainda, é inferido como alguém de pensamento nobre, enquanto o nobre, pelas passagens, é tido como alguém de pensamento pobre, ocasionando uma ironia. O término, por sua vez, novamente retoma a expressão inicial das respostas para com os pobres, utilizando-se das idéias do cristianismo para familiarizar a relação de proximidade entre componentes de ambas as classes sociais, provocando, por outro ângulo, mais uma crítica forte para a atitude citada.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LITERATURA DO VALE – SABERES.


SABERES – RAIMUNDO MARQUES (2007)
TERRA DE ORIGEM: PORTO DO MANGUE/RN

Saber é melhor que ouro e prata
Saber quem nos ama de verdade
Amando com amor que não maltrata
Sabendo que a solidariedade é
A sabedoria para a vida compacta
Buscai o saber que resgata
Nem todo saber é o que retrata.

Quem sabe muito vai prevalecer
O pobre sábio e sincero
É mais poderoso que o tolo
Rico avarento que age com império

Saberes enriquece a alma
Constrói amigos, atrai fama
Age com fé e calma
Saberes nos levanta da lama
Trás de volta a quem ama
Saberes faz o triste bater palma

Saberes levanta abatidos
Ergue o caído do pó
Constrói cidadania
Com sustentabilidade
Forma inclusão social
Sugere interatividade
Gerando cultura geral
Socializando toda comunidade.


O saber, uma fonte de informação que é utilizada pela minoria populacional. O autor, em seu poema, levanta a importâncias e os benefícios dos métodos de pensar e saber pensar, proporcionando uma sabedoria refinada. Rendas elevadas, sem o saber para aplicá-las, não passarão de mera ignorância, eis então a diferença entre o nobre e o pobre, pois o último consegue obrar milagres com sua renda mínima, ficando satisfeito com o pouco, usufruindo da humildade; enquanto o outro, por sua vez, nunca se contenta com pouco, usufruindo da ganância. O dinheiro antagônico ao saber, pois todos os benefícios causados pela arte da sabedoria entram em conflito com a sede do real alheia; essa arte liga-se muito mais ao subjetivo do que ao material. Por fim, estão implícitas questões atuais, relacionando o contraste entre economia e sustentabilidade, levantando que os mesmos só não caminham em sintonia porque o lugar da sabedoria está sendo cedido para a chegada do real.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

LITERATURA DO VALE - NO SERTÃO

NO SERTÃO – NESTOR LIMA (1887)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN

Que a vida a da fazenda!
- Assim que o Sol desvenda
As fimbrias do Levante,
A gente ali desperta
E á faina, sempre alerta,
Entrega-se offegante!

Um goso indefinido
Existe no mugido
Do grado no curral.
Fogosos beserrinhos,
Cabritos, borreguinhos,
Pinotam pelo val.

Em torno, a cercania
Encerra a calmaria,
Si chove e sopra o vento;
A lida recomeça,
Após que a chuva cessa
E limpa o firmamento.

Si o dia está nublado,
Nas várzeas, no roçado,
Trabalha-se a valer;
A’ tarde, satisfeitos,
Só pensam nos proveitos
Que a safra vem trazer.

A’ noite, nos terreiros,
Reunem-se os rendeiros
Historias a contar...
E o céo, já sem nuanças,
Parece com as creanças
Cantigas a escultar...

Mas, logo que a fogueira
Accesa na lareira,
Extingue os lumes seus,
- E’ muda a redondeza,
E a propria Natureza
Entôa um hymno a Deus!

O poema acima retrata uma característica comum da origem, desenvolvimento e que, ainda hoje, está transcrita nas atividades econômicas locais. A junção da agricultura e pecuária na formação do fazendeiro é o tema principal tratado pelo autor, mostrando seus sentimentos, as necessidades para uma boa produção e as emoções relacionadas com as mesmas. O desenvolvimento deste se dá com a rotina, iniciando-se com o acordar de um fazendeiro, passando por suas atividades nas tardes e, chegando até o fim de seu trabalho, já na noite. O marco, contudo, não é a passagem da rotina, mas o subjetivo encontrado nos prazeres das práticas trabalhistas, demonstrando que, mesmo com toda expectativa natural, com toda  a extensa carga horária, o fazendeiro faz aquilo que almeja, tem prazer em elaborar suas atividades.

LITERATURA DO VALE - O ANALFABETO

O ANALFABETO – MANUEL CALIXTO DANTAS
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN

“Um dia, Gildenor (seu,seu) estava na janela de sua casa, virou-se para Paulo e perguntou-lhe se a barragem estourasse, a água que entrasse na cidade iria molhar as pessoas, Paulo olhou para ele e disse, olha seu pai focinho, quando a água vier e vir você, ela faz um círculo para não lhe molhar, seu analfabeto.”

O humor pode ser muitas vezes, cômico e provocar gargalhadas aos leitores ou espectadores. Contudo, o humor pode se estender e abranger críticas expressivas, acrescentando além de uma visão engraçada, um conteúdo externo para que o leitor reflita. Isso também está expresso nos traços humorísticos da literatura regional, como a anedota abaixo, expressando uma crítica interna ao analfabetismo, ao contrário do que, quem se detém somente aos textos vê, achando que a crítica está ao personagem Gildenor. 

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

XILOGRAVURA NO VALE - A ARTE COMO COMPLEMENTO


Denominamos de Xilogravura, a técnica de gravura na qual utilizamos madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. É um processo muito parecido com o carimbo.
É uma técnica em que se entalha madeira, com ajuda de instrumento cortante, a figura ou forma (matriz) que se pretende imprimir. Em seguida usa-se um rolo de borracha embebecida em tinta, tocando só as partes elevadas do entalhe. O final do processo é a impressão em alto relevo em papel ou pano especial, que fica impregnado coma tinta revelando a figura.
A xilogravura popular é uma permanência do traço medieval da cultura portuguesa transplantada para o Brasil e que se desenvolveu na literatura de cordel. Quase todos os xilógrafos populares brasileiros, principalmente no Nordeste do país, provêm do cordel. Entre os mais importantes presentes no acervo da Galeria Brasiliana estão Abraão Batista, José Costa Leite, J. Borges, Amaro Francisco, José Lourenço e Gilvan Samico.
Há mais ou menos um século, o cordel-xilogravura está atrelado, desde sua chegada ao Brasil, via cultura portuguesa. Mais um traço da miscigenação cultural a que pertencemos.