terça-feira, 14 de setembro de 2010

LITERATURA DO VALE - NO SERTÃO

NO SERTÃO – NESTOR LIMA (1887)
TERRA DE ORIGEM: ASSU/RN

Que a vida a da fazenda!
- Assim que o Sol desvenda
As fimbrias do Levante,
A gente ali desperta
E á faina, sempre alerta,
Entrega-se offegante!

Um goso indefinido
Existe no mugido
Do grado no curral.
Fogosos beserrinhos,
Cabritos, borreguinhos,
Pinotam pelo val.

Em torno, a cercania
Encerra a calmaria,
Si chove e sopra o vento;
A lida recomeça,
Após que a chuva cessa
E limpa o firmamento.

Si o dia está nublado,
Nas várzeas, no roçado,
Trabalha-se a valer;
A’ tarde, satisfeitos,
Só pensam nos proveitos
Que a safra vem trazer.

A’ noite, nos terreiros,
Reunem-se os rendeiros
Historias a contar...
E o céo, já sem nuanças,
Parece com as creanças
Cantigas a escultar...

Mas, logo que a fogueira
Accesa na lareira,
Extingue os lumes seus,
- E’ muda a redondeza,
E a propria Natureza
Entôa um hymno a Deus!

O poema acima retrata uma característica comum da origem, desenvolvimento e que, ainda hoje, está transcrita nas atividades econômicas locais. A junção da agricultura e pecuária na formação do fazendeiro é o tema principal tratado pelo autor, mostrando seus sentimentos, as necessidades para uma boa produção e as emoções relacionadas com as mesmas. O desenvolvimento deste se dá com a rotina, iniciando-se com o acordar de um fazendeiro, passando por suas atividades nas tardes e, chegando até o fim de seu trabalho, já na noite. O marco, contudo, não é a passagem da rotina, mas o subjetivo encontrado nos prazeres das práticas trabalhistas, demonstrando que, mesmo com toda expectativa natural, com toda  a extensa carga horária, o fazendeiro faz aquilo que almeja, tem prazer em elaborar suas atividades.